Estréia: 1981, com uma série de cartuchos do Atari
Maior sucesso: Dynavision 2, console clone do NES lançado em 1989
Último lançamento: Dynavision Cybergame, console-emulador lançado em 2011
No início da década de 1980 o Brasil vivia numa franca recessão econômica. A moeda da época, o Cruzeiro, era devorada por uma inflação que atingia estratosféricos 120% ao mês. Com a desvalorização, a solução para quem investia em eletrônicos poderia ser a importação, caso o governo não tivesse se antecipado e criado a Lei da Reserva de Mercado, uma lei que, na teoria, salvaguardava a indústria brasileira da concorrência estrangeira, mas na prática apenas legalizava a pirataria e o contrabando de componentes eletrônicos.
Conhecendo os meandros dessa lei, muitas empresas usavam isso para copiar produtos de sucesso no exterior e vendê-los ao público brasileiro, que não podia beber direto na fonte. Uma febre no exterior eram os videogames da Atari, que já entravam no Brasil seja na bagagem dos mais abastados que podiam ir ao exterior (devidamente escondidos, para evitar problemas com a alfândega), seja via Paraguai, contrabandeados. Isso encarecia tanto aparelhos como jogos, pois era muito difícil trazer algo de fora do país. A solução: produzir tudo no Brasil, e como não dava pra trazer a Atari, empresas brasileiras criaram consoles compatíveis e cartuchos clonados. A recém-nascida Dynacom, juntamente com um grupo chamado Canal 3, passou a copiar cartuchos de Atari para atender à demanda crescente por novos jogos.
Vendo o sucesso que estavam fazendo o Dactari e o VG-9000, produzidos respectivamente por suas concorrentes Milmar e Dismac, a Dynacom decidiu entrar no ramo dos Atari-compatíveis, porém com um plus a mais: enquanto a concorrência copiava o Atari na cara dura (até na aparência), eles decidiram melhorar o produto, e assim surgiu o Dynavision. Seu console era não só melhor que os concorrentes como também superava em hardware até mesmo o Atari original, com uma CPU mais forte (igual à dos computadores TK da época), joysticks melhores e mais anatômicos (com entrada frontal, coisa em que ele foi o pioneiro no Brasil, ao contrário das entradas traseiras tradicionais) e até mesmo um acessório que o transformava num computador e permitia programar em Basic de forma rudimentar. Além disso, o console contava com um “silenciador”, que mantinha a TV escura e sem som durante a troca de cartuchos, evitando o tradicional “chuvisco”.
O console foi um sucesso, e muitos o consideram o melhor clone de Atari já produzido. Mas o tempo passava e o sistema Atari, assim como o resto do mundo já havia visto anos antes, começou a decair. A Dynacom viu que o Nintendo vendia feito pão quente no exterior, e decidiu investir no padrão como Dynavision 2, que embora parecesse apenas o console anterior pintado de branco (inclusive com os mesmos joysticks “manche de avião”) tinha imagem e som muito superiores. Mas dessa vez as concorrentes não se limitaram a copiar o hardware da Nintendo, criando ótimos consoles como o Turbo Game da CCE e o Hi-Top Game da Milmar. E a Dynacom perdeu terreno.
A inovação veio no sucessor do console, o Dynavision 3: um novo controle (cópia descarada do controle de 6 botões do recém-nascido Mega Drive), batizado de Turbo Pad e que tinha como inovação um terceiro botão que equivalia a apertar A e B ao mesmo tempo (perfeito para jogos que exigiam isso, como Double Dragon), bem como versões “turbo” dos três botões, que a Dynacom copiou do Turbo Game sem pensar duas vezes (coisa que o Turbo Game já havia feito, copiando o controle turbo do NES original); uma entrada dupla de cartuchos, que aceitava tanto cartuchos japoneses de 60 pinos quanto os americanos de 72 (outra coisa copiada do Turbo Game), painel com sensores de toque no lugar de botões e som estéreo nos fones de ouvido (cujo conector ficava no joystick, idéia genial). Foi o melhor clone de NES já feito, porém na época os 16 bits já haviam chegado, fazendo o Dynavision 3 já nascer ultrapassado.
A Dynacom até que tentou entrar nos 16 bits com o Megavision, único clone de Mega Drive lançado no Brasil, mas seu brilho foi breve: a Sega já estava representada no Brasil pela Tec Toy, que alegou pirataria da Dynacom nesse caso, e a empresa teve que suspender a produção do console. Sem poder entrar nos 16 bits, pois já não era tão fácil assim copiar os outros nessa época, ela se agarrou ao que tinha, ou seja, os padrões Atari e Nintendo 8 bits. Seus produtos até que eram bem interessantes, como o Megaboy (um Atari portátil e sem fio) e o Handyvision (um NES também sem fio), mas eram defasados tecnologicamente, e as vendas caíram.
Os anos passavam, surgiam vários outros consoles, como N64, Playstation e Dreamcast e a Dynacom insistia com o seu clone do NES, apostando no marketing para tentar vender o Dynavision 4 para pais desavisados que viam o videogame de preço baixo na prateleira, com centenas de jogos na memória, e achavam que seus filhos iriam gostar daquilo. Eles chegaram a reformular o console, dando-lhe a aparência ora de um computador (batizado de PC Game, quase uma piada de mau gosto), ora de um Wii (o infame Wi Vision, com um controle sem fio que mal funcionava) para ver se a estratégia do “espero que um trouxa se engane e compre o nosso” funcionava. Não funcionou.
Quem queria games next gen ria da Dynacom por causa de seu hardware atrasado, e quem era retrogamer preferia comprar consoles antigos, pois há muito o Dynavision não tinha mais entrada de cartuchos. Após muito murro em ponta de faca eles enfim desistiram em 2010, encerrando sua produção e alugando sua marca à uma empresa de Manaus, a Ceder Eletrônica, que até que fez algumas coisas boas, como tocadores de MP4 que rodavam emuladores de NES. Nos games, uma boa iniciativa foi trazer para o Brasil o Dingoo, um portátil que emulava qualquer console do GBA para trás e já era famoso entre os retrogamers. Deu tão certo que eles decidiram criar uma versão de mesa, o Dynavision Cybergame.
Porém, problemas começaram a surgir, com os compradores reclamando de problemas tanto com o Dingoo com o Cybergame. Alegando que a Ceder não estava produzindo com o padrão de qualidade desejado a Dynacom cassou a cessão de uso da marca, queimou os estoques do Dingoo e do Cybergame e tirou seu site do ar. E é assim que a empresa está até hoje, aparentemente falida. É um triste fim para uma empresa que, apesar de viver mais copiando do que criando, marcou a história dos games no Brasil. Todos os que tiveram algum console da marca, como foi o meu caso (o Dynavision 3 foi meu segundo console), lamentam o fato de que a Dynacom morreu desse jeito. Apesar dos pesares, sentiremos sua falta.
Boa matéria Tristan, eu tive o primeiro Dynavision, o controle era bem melhor que do
ResponderExcluirpróprio Atari, saudades dessa época.
Belo artigo, da prazer ler esse tipo de coisa :3
ResponderExcluirvixi, deu até saudade do meu dynavision
ResponderExcluirHe, Dynacom, provando que cópias podem ser melhores que os originais (o que não é exatamente uma coisa boa)...
ResponderExcluirSempre que vejo o Dynavision eu me lembro que era o prêmio menos querido do Bom Dia e Cia.: http://bp1.blogger.com/_E8HnTVcRJ4U/SD8lmVcrmdI/AAAAAAAAARs/E5taZX58PIg/s1600-h/cdzcomics47.jpg
silas
ResponderExcluirfoi uma odissey e tanto dessa empresa , num mundo eletronico com tantos americanos e japoneses sobreviver ao mercado é mesmo um ato de heroismo e muito conhecimento tecnico, o que faltou a essa empresa acho que foi um bom mercado interno e mais apoio empresarial e governamental na era Fernando Collor
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