Videogames e a Violência (2)

quinta-feira, 5 de maio de 2011 Postado por Azrael_I

p"Eu ainda tenho muito (mas MUITO mesmo) a escrever sobre este assunto, mas vou deixar isto para outros posts. Como eu disse este é um tema delicado, que rende muito assunto, e não gostaria de expô-lo ou discutí-lo de maneira leviana." Estas foram minhas palavras, em Junho do ano passado. E o assunto rendeu de uma forma que eu não gostei.






"O perigo dos Videogames violentos! Como eles estimulam o comportamento agressivo em jovens e crianças e podem servir de inspiração para massacres como o de Realengo! Saiba como proteger os SEUS FILHOS desse problema!" - Paulo Henrique Amorin, jornalista televisivo

Há cerca de um ano, aqui no Museum, eu fiz um tópico sobre a polêmica da influência que os videogames podem ter sobre o comportamento violento das pessoas. Em meu tópico, eu procurei ser o mais imparcial possível, mostrando dados, pesquisas e reportagens sobre o assunto, além claro de destacar quando era a MINHA opinião sobre este tema; embora o Museum seja um blog sobre Videogames, e em muitos casos acabamos sendo um tanto parciais com relação a eles, a questão da violência é um tema que devemos tratar com o maior cuidado possível, e foi justamente isto que tentei fazer, sem tentar parecer que estava de um lado ou de outro. Eu não sou jornalista, eu não sou psicólogo, e ressalto mais uma vez aqui que, ao abordar este assunto, estou falando a MINHA opinião, como cidadão brasileiro e humano, como internauta e como jogador de videogames; mesmo não sendo um profissional da área, eu repito, eu sempre tentei ser o mais imparcial possível ao escrever algo aqui, destacando quando é a MINHA opinião o que estou falando e quando é um FATO.

Por isso, muito me entristece ao ligar a televisão na hora do jantar e ver um canal sério como a TV Record, com jornalistas profissionais com longos anos de carreira e experiência, mostrar uma reportagem tão tendenciosa e pouco profissional como a do dia 24/04/2011, exatamente sobre o tema Videogames e a Violência.

Em meio à reportagem, várias vezes são mostradas imagens de Wellington Menezes de Oliveira, o atirador do Massacre de Realengo, imagens estas intercaladas com várias cenas dos jogos da série Hitman (além de outros jogos), fazendo uma comparação do comportamento do atirador com o do personagem do jogo. Além disso, são mostrados depoimentos de algumas pessoas e de uma psicóloga. Entretanto, o que me incomodou não foi o fato da reportagem falar sobre a influência dos videogames no comportamento violento das pessoas, e sim o fato de que, da forma como foi feita, era como se o jornalista quisesse dizer que o atirador tinha agido daquela forma porque havia se inspirado em jogos violentos, ou que estes jogos o teriam influenciado! Nenhuma, eu repito, NENHUMA das investigações da polícia foi conclusiva sobre as motivações de Wellington, mas NENHUM dos dados divulgados apontam no sentido de "influência por videogames"; a nota de suicídio de Wellington e o testemunho público de sua irmã adotiva e o de um colega próximo apontam que o atirador era reservado, sofria bullying e pesquisava muito sobre assuntos ligados a atentados terroristas e a grupos religiosos fundamentalistas, além de ter tido instruções de tiro. Então POR QUE a reportagem da Record insistiu em fazer comparações entre o atirador de Realengo e jogos violentos?


Em uma palavra: sensacionalismo. O tempo todo, a reportagem se mostrou extremamente sensacionalista, exibindo os fatos de maneira a incitar o espectador a concordar com a ideia de forma tendenciosa; ora, isto é EXATAMENTE A MESMA COISA que aconteceu em outros lugares e eu destaquei na primeira parte deste tópico, ano passado, na parte em que mencionei o comentário do jornalista Caio Teixeira sobre o Massacre de Winnenden!

Uma parte da reportagem eu acredito que todos concordem: o papel dos pais e da sociedade é muito importante para a prevenção do aumento da violência. Mas não é apenas proibindo os filhos de jogar que a violência estará resolvida. O que acontece quando uma singela mãe de família vê uma reportagem dessas, se apressa em desligar seus filhos dos "jogos-papões" e acha que agora a sociedade e a mente das crianças está segura? OK, agora seus filhos não jogam mais os perigosos games lavadores de mente e criadores de monstros. E as drogas? E o bullying dos colegas? E os crimes que se vê todo dia nos jornais e na televisão? E os problemas psicológicos naturais de cada idade, ainda mais dos adolescentes? Será que tudo isso conta MENOS do que a influência dos videogames? E não seria o ato de incitar as pessoas contra um bode expiatório um ato de violência? Mais uma vez, cito meu próprio tópico:

"Quando usadas medidas válidas de agressão, e considerada a influência de família e comunidade nos jovens, o efeito dos games não se comprova. E, mesmo que ignorássemos as falhas das pesquisas, os resultados encontrados são irrelevantes. Os estudos indicam que games causam aumento de entre 0 e 2,5% no nível de agressividade. É pouco. Ou seja, no debate sobre violência, um lado defende que o efeito dos jogos é nenhum, e o outro defende que é quase nenhum." (Revista Superinteressante, Junho de 2010)


Vidoegames realmente podem ter sim uma influência no comportamento violento (embora ínfima, comparada com os demais problemas sociais), mas justamente por isso em muitos países (inclusive no Brasil), games têm classificação etária. Se querem proibir a produção e venda de videogames violentos no Brasil, por que não proibir o mesmo com bebidas alcóolicas, cigarros, filmes adultos, o acesso livre à Internet e demais produtos direcionados ao público adulto?
Lembrando ainda que o consumo de bebida alcóolica é responsável por cerca de 60% dos acidentes de trânsito e aparece em 70% dos laudos cadavéricos das mortes violentas - fonte: Wikipedia. Se os filhos têm seu comportamento influenciado por jogos, a culpa real não é dos pais que não cumprem seu papel de educadores? Detalhe importante: Wellington, o atirador de Realengo, era um adulto de 23 anos, que cresceu sem estabilidade familiar, ou seja, era uma pessoa pré-disposta a ter problemas psicológicos; repetindo: NÃO FORAM videogames que o levaram a matar 12 crianças, e sim seus próprios problemas psicológicos! Mas o que vai pensar uma pessoa típica e sem conhecimento dos fatos ao ligar a TV e ver uma reportagem como a que foi exibida?

Mais uma vez, muito me entristece ver o nível em que o jornalismo da televisão brasileira desceu. A Rede Record é uma televisão que atualmente tem se destacado bastante em seu jornalismo, muitas vezes superando a audiência da Rede Globo, a líder rotineira do horário (e, na minha opinião, muitas vezes superando em qualidade de matérias também), mas que ainda consegue sofrer do mal que qualquer equipe jornalística está sujeita: o sensacionalismo. Exagero e deturpação de notícias são coisas que infelizmente acontecem em qualquer parte do mundo, mas que NÃO DEVERIAM ACONTECER! Esta não é apenas a minha opinião, mas a de vários outros internautas (e, pelo que eu vi, da maioria).






Quero deixar claro: este meu tópico não é uma mera crítica à Rede Record ou qualquer outra emissora em particular, muito menos a uma única matéria; é sim uma crítica a como o tema é mal abordado pela imprensa(a própria Rede Globo já fez matérias deste nível, principalmente atacando jogos de RPG), e é direcionado a qualquer um que venha a acessar o Blog para que saibam a MINHA opinião, com conhecimento de FATOS e não meras suposições e sensacionalismos; eu acredito sinceramente que não seja o único a pensar desta forma e por isto estou escrevendo. Paz, jornalistas do Brasil; façam seu trabalho, mas como diria um dos apresentadores da Record: FAÇAM DIREITO!


Clamo contra a violência, e ninguém me responde; levanto minha voz, e não há quem me faça justiça. - Jó 19,7


P.S.: Da primeira vez, pedi perdão aos leitores do Blog pelas charges; desta vez, eu peço perdão pela falta de imagens, mas acho que os vídeos e as palavras são suficientes. Da próxima vez que voltarmos a este tema... quem sabe?